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Posição de parto: o que preciso saber?

por | 12/04/2021

A melhor posição para o parto é aquela na qual a mulher se sente confortável, essa não é uma decisão do profissional que acompanha o nascimento. Ao profissional cabe oferecer orientação caso a posição em que ela se encontre não esteja contribuindo para a evolução do parto e, nesses casos, seu papel é oferecer alternativas mais favoráveis, levando em conta a progressão e o encaixe do bebê na pelve materna. Para isso, é fundamental ter conhecimento sobre a biodinâmica da pelve. Infelizmente, não temos essa disciplina na faculdade. Apenas depois de anos de formada fui descobrir a interferência da posição da mulher no parto

Pensando na bacia materna, se a mulher abre as pernas, o estreito inferior, fecha. Se ela fecha as pernas o estreito inferior abre, e se aproximar os joelhos ela se abre um pouco mais. Então essa história de que a mulher precisa parir de perna aberta é um mito. A bacia em posição neutra, pés paralelos, é o ideal. Por conta disso, a posição DDH que é como as mulheres acabam ficando na posição ginecológica, é a PIOR posição para o parto pois ela dificulta a movimentação do cóccix e deixa as pernas obrigatoriamente abertas. Se o bebê está muito embaixo, se a mulher fizer cócoras, precisa fazer com a planta dos pés no chão e os  joelhos paralelos – não com os joelhos abertos. Joelhos abertos só se o bebê está alto e precisa encaixar na pelve superior.

A bacia materna interfere no parto?

Desde que não tenha patologias associadas, cada mulher produzirá o bebê que dá conta de passar pela sua pelve. O tamanho da pelve independe do tamanho da mulher: existem mulheres grandes com pelve estreita e mulheres pequenas com pelve mais larga e isso não interfere de forma direta no parto. Conhecemos na literatura quatro tipos de pelve: Ginecóide, Andróide, Antropóide e Platipelóide, a principal diferença entre elas é a distância entre os ossos, o que significa que uma é mais estreita do que a outra em relação a distância antero-posterior ou lateral.

A Ginecóide é a que mais harmonia apresenta entre as distâncias. Segundo alguns livros ela é a mais adequada para o parto. Porém, continuo afirmando que cada mulher produz o bebê que dá conta de passar pela sua pelve. O que acontece é que algumas posições adotadas pela mulher no parto podem prejudicar a distância entre os eixos e dificultar a passagem do bebê pela pelve. E eu, enquanto profissional que assiste ao parto, posso ajudar a alterar a posição dessa pelve de acordo com a posição que coloco a mulher e com orientação de movimentos durante o trabalho de parto e parto.

No entanto, essa interferência nem sempre é necessária: se deixarmos a mulher livre para fazer o que precisa, geralmente, de forma instintiva, ela fará o movimento necessário. No entanto, como vivemos em uma sociedade em que estamos cada vez mais desconectadas de nós mesmas e da nossa potência, algumas mulheres não fazem essa conexão, então é nosso papel enquanto profissionais estar atentas ao o que está acontecendo e orientá-la a escutar o que o seu corpo está falando – e segui-lo.

Vale lembrar sempre que a posição adotada pode interferir na variabilidade da frequência cardíaca, então é essencial realizar ausculta de pelo menos um minuto e, no caso de frequência não tranquilizadora, a mudança de posição se faz necessária para garantir a vitalidade fetal.

Eu não posso deixar a mulher deitada? E se ela quiser?

É importante entender se ela quer ficar deitada por quê essa é sua real vontade ou se é algo cultural. Será que essa imagem de uma mulher parindo em posição ginecológica não está enraizada no imaginário dela? O vínculo com o profissional que está atendendo ao parto, faz com que a mulher se sinta confiante para adotar posições diferentes.

Esse é, inclusive, um assunto muito importante a ser abordado nas consultas de pré-natal. Conte às gestantes que você acompanha a história do parto. A primeira pessoa que fez uma mulher deitar para parir foi Luiz XVI pois queria ver seu filho nascendo. Desde então, descobriu-se que a posição deitada era confortável para quem estava assistindo ao parto, e com o evoluir da história obstétrica, a posição ginecológica passou a ser boa para facilitar o uso do fórceps. Com a institucionalização do parto (e a migração dos nascimentos de casa para os hospitais) entendeu-se que as mulheres não tinham mais liberdade de escolher como queriam parir seus filhos.

Se ela quer ficar deitada, tudo bem, mas não a obrigue a ficar na posição ginecológica porque DDH com MacRobert instintivo é diferente de posição ginecológica. E é importante lembrar que a posição ginecológica é a que mais causa danos perineais. E lembre-se de nunca pedir para a mulher fazer força fora da contração! Isso pode causar edema de colo, edema de vulva e retardar ainda mais a evolução do parto.

Os estudos mostram que quanto mais movimento a mulher fizer no parto, melhor, e que a posição verticalizada (de cócoras ou mesmo em pé) facilitam o parto, além de diminuir o tempo de expulsivo. Alguns estudos sugerem, no entanto, que essas posições podem estar relacionadas ao aumento de sangramento mas não temos estudos suficientes para afirmar se elas aumentam o sangramento ou se a posição facilita que vejamos o sangramento. Por sinal essa é uma das discussões apontadas na revisão sistemática da Cochranne de 2017 sobre posição para o segundo estágio do parto para mulheres sem anestesia peridural.

Acredite que é possível

Em sua maioria, os profissionais têm medo do desconhecido, por isso não sugerem posições diferentes. Como eu vou pegar um bebê em posição de quatro apoios? Sentando no chão. Nossa, mas eu vou sentar no chão? Qual o problema? Quando a mulher faz posição lateralizada eu solicito para ela apoiar um dos pés dela no meu ombro e pra mim está tudo certo pois estou ali para servir/cuidar daquela mulher. Como isso é para você? E se precisar de episio? Não precisa. E proteção perineal? Não precisa. Quanto mais o bebê fizer o movimento de báscula, melhor é para o períneo, mais ele será protegido.

Nosso papel é ajudar a mudar os protocolos, trazer novos saberes, novas luzes, novas práticas. Acredite que é possível parir fora do convencional! Interiorize! A mulher deixou de acreditar que pode parir e nós deixamos de confiar na capacidade delas.

Texto: Karina Fernandes Trevisan, Parteira e idealizadora do Curso O Poder do Partejar

Foto: Cibele Barreto Fotografia

 

 

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