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Você sabe o que é violência obstétrica – e como denunciar?

por | 08/02/2021

Violência obstétrica é qualquer ato que ocorra com a mulher na gestação, no parto ou no pós-parto que a deixe desconfortável, tanto física quanto psicologicamente, ou impedida de ter algum direito respeitado. Infelizmente muita gente (inclusive profissionais da área da saúde) ainda acreditam que só existe violência física, portanto, se a mulher não apanhou, a violência não ocorreu. No entanto, a violência psicológica pode causar danos e traumas terríveis e pode ocorrer em uma fala, uma expressão, na negativa de uma solicitação ou em um pedido de ajuda que a mulher tenha feito. Violência obstétrica acontece quando o profissional realiza um procedimento que não tem evidência científica, culpabiliza a mulher pelo desfecho que pode acontecer no parto “se algo acontecer com o seu bebê, a culpa vai ser sua”; Abala o psicológico, ameaça, é rude no atendimento, não respeita a hora de ouro do bebê, separa a mulher do seu filho após o nascimento, não permite a ambos (mãe e bebê) vivenciarem o parto de forma respeitosa.

Vale lembrar que o parto é um momento de grande vulnerabilidade para a mulher, no qual ficamos muito expostas, acuadas (sem nossas roupas, sem brincos, sem nossos óculos…). Muitas vezes a mulher recebe exames de toque repetidos (sem a menor necessidade), e tudo o que ela quer é sair dali com o seu bebê. Em muitas situações, a mulher sabe que o tratamento que está recebendo não é correto mas não consegue ter voz, às vezes por falta de informação, outras, por medo de sofrer mais represálias da equipe que a está atendendo.

É muito comum ainda mulheres que consentem alguns procedimentos por não saberem que eles não são necessários. Posteriormente, elas descobrem que sofreram violência obstétrica. Um desses procedimentos é a Manobra de kristeller, na qual a mulher tem sua barriga empurrada sob a justificativa de ajudar o bebê a nascer. Essa prática não tem qualquer fundamento científico de benefícios que ampare sua realização, inclusive podendo trazer danos à mãe e bebê.

No Brasil 1 em cada 4 mulheres sofre violência obstétrica. Estamos falando de cerca de 25% das mulheres. Apesar de ser um número absurdamente alto, ainda cabe a pergunta: será que é “só” isso? Levando em conta que grande parte das mulheres não sabe o que é violência obstétrica, fica difícil pra elas identificarem se sofreram ou não.

Muitas pessoas associam violência obstétrica com partos na rede pública (SUS) e acreditam que em hospitais particulares, isso não existe. Ledo engano. Qualquer procedimento realizado de forma desnecessária na mulher ou no seu bebê, sem consentimento, sem informação adequada, como seguir protocolos sem olhar caso a caso, caracteriza violência obstétrica.

 

Sem consentimento, é violência

TODO procedimento que precisar ser feito requer consentimento, até mesmo aferir uma pressão. Se o Obstetra indicar uma cesárea, por exemplo, ele precisa explicar por quê a indicação está sendo feita e sanar todas as dúvidas, em termos claros, antes de realizar o procedimento. Infelizmente nem todos os profissionais fornecem explicações de forma clara, por isso, não tenha medo ou vergonha de perguntar quantas vezes forem necessárias.

Se possível, tenha uma Doula com você! Como a Doula tem mais conhecimento e experiência com nascimentos, ela pode ajudar a trazer mais segurança e até mesmo funcionar como uma intérprete, esclarecendo para a família os procedimentos que estão sendo sugeridos.

 

Como prevenir violência obstétrica?

A principal forma de prevenir é com informação! Caso não possa ter uma equipe humanizada, aí vão algumas dicas:

  1. Busque hospitais que tenham protocolos mais humanizados. Para isso, converse com mulheres que já tiveram bebê lá, pergunte às equipes humanizadas, se informe.
  2. Veja se existe uma Casa de Parto próxima à você, elas são excelentes opções no SUS.
  3. Faça um Plano de Parto, documento recomendado pela ANS e pelo Ministério da Saúde para auxiliar as mulheres a serem ouvidas em seus partos. Além de ter um documento em mãos, elaborar o plano de parto ajuda na construção de informações e nos estudos.
  4. Tenha uma Doula com você. A Doula não vai questionar os procedimentos adotados pelo médico e não pode influenciar nas condutas médicas, mas pode ser uma excelente tradutora dos procedimentos para que você e seu acompanhante possam negar que algo que não desejam seja feito.
  5. Um acompanhante bem preparado e ciente dos seus desejos para o parto pode ajudar muito. O ideal é que ele faça um curso de preparação para o parto com você, e conheça o seu plano de parto, para que possa defender os seus direitos e ser seu porta voz quando você não conseguir.

 

Denuncie!!

Se você não se sentiu bem assistida no seu parto, denuncie à Defensoria Pública, ao Disque Saúde (136) ou ao Disque violência contra a Mulher (180). Todos esses canais recebem denúncia de violência obstétrica. Entre em contato com a maternidade e peça a cópia do prontuário médico: esse documento te permitirá saber tudo o que foi realizado com você e seu bebê.

O que dói no parto não é a contração, é a dor de ser destratada. Parto normal não traumatiza, o que traz trauma é  má assistência, ser negligenciada, ser deixada sozinha.

Algumas mulheres têm tanto medo de sofrer violência de novo que deixam de engravidar e colocam a culpa no parto normal, se culpam por suas escolhas. Essas mulheres precisam ser ouvidas. Se você foi vítima de violência obstétrica seja gentil consiga mesma, se acolha, se olhe com carinho, busque ajuda de profissionais que te acolham.  Aqui na Commadre temos Psicólogas que podem te auxiliar nesse processo. Eu sei que é difícil remexer na ferida, mas é importante falar, é necessário denunciar para que outras mulheres não passem por isso também. Só assim vamos conseguir mudar a assistência ao parto no Brasil.  Lembre-se que o que você está pedindo, não é nada demais, só estamos cobrando respeito e boa assistência. Queremos apenas sentir a dor do parto, só isso, nenhuma dor a mais.

 

Dicas

– Quer um modelo de plano de parto? No nosso Grupo do Telegram disponibilizei um modelo bem legal para te ajudar!

– Assista ao Documentário A dor além do parto (Youtube) e ao Renascimento do Parto 2 (Netflix). Sim, ambos são bem tristes, mas muito necessários.

 

Sigamos cuidando umas das outras.

 

Thais Bernardo é Enfermeira Obstetra e idealizadora do Curso Parto sem Neura

 

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